Coerência na violência


 Aquando dos trágicos acontecimentos relacionados com o adepto de nacionalidade italiana que foi assassinado em frente ao Estádio da Luz, todo o 'mundo' do futebol condenou o ocorrido, não apenas pela tragédia social e individual mas também pela responsabilidade do agente desportivo SLB, claques ou grupos de adeptos organizados.

(TVI - 2020-02-18 - todos os direitos reservados)

O próprio SLB emite um comunicado apelando ao fim destes comportamentos:

«O Sport Lisboa e Benfica lamenta de forma veemente e manifesta o seu mais profundo pesar pelo falecimento ocorrido esta madrugada em incidentes junto do Estádio da Luz e como uma das entidades com meios audiovisuais de segurança naquela área, informa que desde a primeira hora tem estado em estreita colaboração com as forças de segurança, no sentido de fornecer os necessários elementos para se apurar as circunstâncias em que este triste e lamentável acontecimento ocorreu. O Sport Lisboa e Benfica reitera o seu forte apelo ao necessário respeito e moderação entre todos os adeptos do futebol, pedindo que esta noite todos saibamos dar uma resposta que preserve os valores da sã convivência e rivalidade em nome de duas instituições que tanto têm honrado o país e o futebol português.»

Esta tragédia é inclusivamente evocada, a 1 de Janeiro de 2019, aquando da agressão por desconhecidos, a um adepto benfiquista por alturas de um jogo em Braga, pelo Presidente do FCP:

"O que espero é que o Benfica não nos acuse de estarmos por trás da morte daquele adepto italiano às portas do Estádio da Luz e daquele no Jamor com um very-light. Se dissessem que nós estamos por trás disso é que eu ficaria preocupado. Já sabemos que isto são manobras de diversão, para desviar as atenções de outros assuntos. Para mim, são "fait-divers" que nem vale a pena comentar".


A trágica morte do senhor Ficcini, é um problema do SLB, de acordo com o que é afirmado pelo senhor Jorge Nuno Pinto da Costa.

Já a morte, filmada, por esfaqueamento, nas imediações do Estádio do Dragão, mereceu este comunicado:

«A morte de um adepto, durante as celebrações da conquista do título nacional de futebol, não pode deixar de ser lamentada independentemente das circunstâncias que venham a ser apuradas. À família da vítima, o FC Porto endereça sentidos pêsames.»


Quando adeptos, de claques, se matam ao pé de um estádio, é um assunto de 'estado'. Quando se matam ao pé de outro, é uma rixa entre cidadãos, à qual, o clube é alheio, se e somente se esse clube for o dirigido pelo senhor Jorge Nuno Pinto da Costa.

A comunicação social portuguesa, é conivente, e até cúmplice desta dualidade de critérios.

De relembrar que quer SLB, quer SCP (após presidência de Frederico Varandas) retiraram os apoios às claques, ao contrário do FCP.

Apesar de tudo, o senhor Frederico Varandas não deixa de ter razão no que afirma, e que mereceu repúdio geral dos media submissos. Detesto concordar com um sportinguista que amiúde dirige palavras menos simpáticas com o SLB, mas o senhor Frederico Varandas tem toda a razão em abanar a colmeia.

Uma morte bárbara, inadmissível num país que se quer europeu.

Não teve a cobertura mediática equivalente, quer à morte do adepto Ficcini, ou mesmo o caso Alcochete.

Mesmo nas Alianças do Altis, o SCP é comido de cebolada pelos cefalópodes nos media.



Correndo o risco de cair no absurdo, só posso concluir pela seguinte redução ao absurdo, a menos que haja hipocrisia ou demência, para a direcção liderada pelo senhor Jorge Nuno Pinto da Costa, apenas é permitido adeptos do FCP assassinarem outros adeptos do FCP.

Tese, aliás, congruente com a postura de muitos sportinguistas que esquecem o varandim assassino de Alvalade. Relembro que dois adeptos sportinguistas faleceram num acidente decorrente da prática de 'pressionar' os adversários, quando a estrutura envelhecida cedeu, fazendo-os cair de uma altura que foi mortal.

Sem querer justificar o execrável acto de levar artefacto pirotécnico que acabou por matar um adepto sportinguista, ambos os actos foram acidentais. Se bem que entenda a maior capacidade de memória para o caso do very light, o qual assisti em tempo real, chocado e perplexo, vendo o apoio prévio dado pelos sportinguistas às claques e a aparente amnésia ao acidente do varandim, apenas posso concluir que em Portugal o homicídio só é grave se forem os 'outros' a matar os 'nossos'. Tudo o resto é acessório.







A dualidade de critérios, a dualidade de tratamento dos temas, o branqueamento de uns em relação a outros, a parcialidade das forças policiais e de investigação, são coniventes com este estado de coisas, que sim, como Varandas tem a coragem de dizer, vai soprar mais de 40 velas, na próxima época.

Temos de exigir o fim da cobertura a claques, e clubes desportivos, sejam eles quais forem, que facultem cobertura e branqueamento de factos tão graves como estes.


Varandas tem sido crucificado e apelidado de violento.

Parafraseando Brecht, todos designam o rio como violento, mas nada dizem das margens que o comprimem.


É necessário um novo dirigismo, e se possível, uma justiça imparcial.

Enquanto isso, resta-nos lamentar todas as vítimas desta selvajaria.




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