O terramoto do Vasco Mendonça
I
O
excelso Vasco Mendonça, publicou no ‘jornal’ «A Bola», um texto intitulado «40
anos disto e daquilo».
Nele,
podemos encontrar o espírito cristão do dar a outra face, e a sábia sabedoria
da metáfora expressa no cliché ‘não lutes com um porco na lama, ele
ganha-te e ficas sujo’.
No
dito texto, confessa sofrer, e a sua família, ameaças por parte de centenas de
pessoas, algumas a quem consultou os perfis nas redes sociais, e que por isso
concluiu, algumas poderiam – não fosse a insanidade decorrente dos ódios
clubísticos – até ser suas amigas, por serem completamente normais,
interessantes até.
Que
o problema do futebol é o de que durante anos, os 3 grandes acicataram ódios, e
não existe ninguém impoluto no assunto.
Assunto
que é ao mesmo tempo uma questão de honestidade do Vasco, para consigo mesmo.
Lamenta
que a guerra de comunicação de que o SLB TAMBÉM é responsável,
pois «(…) recorrendo à mentira e à calúnia, tudo porque o Benfica
não ganhou, é uma forma de estar a que o Benfica nunca mais deve regressar.»
Lamenta-se
do exercício do poder, especialmente quando manifestou mais virulência nos seus
ataques à anterior direcção do SLB, do que em relação aos 40 anos disto e
daquilo. É que mediaticamente, é mais eficaz criticar qualquer direcção do SLB,
tendo ou não razão nas críticas, que os 40 anos disto e daquilo.
Conclui
bem, que tudo isto tem a ver com lógicas de obtenção e manutenção do poder.
Talvez
ignorando, que o poder mediático, como ele bem sabe, não deixa de ser poder, e
que ele ganhou o seu – conforme ser publicado regularmente pelo ‘jornal’ «A
Bola», atesta.
O
caro Vasco, obteve notoriedade particular, através da utilização do Sport
Lisboa e Benfica (ainda que seja indubitavelmente um ferrenho Benfiquista),
alinhando nos jogos de poder e mediatismo, nas estruturas de manipulação e
corrupção, contra as quais publica um manifesto zen.
O
renascido Dalai Vasco, indaga até, o que logra Frederico Varandas, com o estilo
comunicacional escolhido.
O
paradigma, o saneamento do futebol português, segundo o Evangelho de Vasco, não
é possível com estas odiosas erupções de ódio.
Apenas
decorrentes de insucesso desportivo. Sim, para Vasco, só os que perdem é que
reclamam do sistema. Esquece-se Vasco, que o sistema visa fazer ganhar, uns
mais que outros, e que, portanto, é natural que cada vitória no campeonato, um
breve fôlego de oxigénio logo seguido de imersão na costumeira e rotineira
massa de lama, cuja relativa alternância (pun intended) visa apenas dar a
ilusão de que qualquer um pode ganhar e que por isso o sistema é isento. Ora a ilusão de aparência do sistema, é o que permite a longevidade do mesmo, assumida por Vasco como verosímil.
O sistema é resistente porque sabe que não pode ganhar sempre. Grão a grão, se enche o papo, não pode ser tudo logo de uma vez, senão acaba a seara. E há pelo menos um clube, que à conta do longevo sistema, se tem aproximado do Benfica, em termos de conquista de títulos.
No
fundo, o que Vasco quer dizer é que os grandes são todos iguais, e que não
podem criticar pois fazem, em maior ou menor grau, o mesmo.
Compreende-se
o exemplo dado aquando da menção às declarações de Luís Vilar, não se entende
no entanto a conclusão de que «(…)resumir a rivalidade clubística em Portugal a
uma espécie de disputa entre forças do bem e forças do mal acaba por se tornar
patético.»
Outra
nuance deliciosa, é a consciência de que o frutabol português precisa de um
acontecimento cataclísmico (que o Apito Dourado não foi permitido ser), mas que
tal acontecimento não se afigura provável nos próximos anos, pois o clima de
conflito é instrumental na rentabilidade desta liga periférica e fraca, como é
a ‘nossa’.
Lapidarmente
termina com o zénite dos postulados zen: «Da próxima vez que alguém falar em 40
anos disto, não se esqueçam que ajudámos todos à festa.»
II
O
texto é todo ele pejado de boas intenções e apelos à paz mundial.
Revela
um paradigma antropológico datado, e negado pela Biologia Evolutiva, aquele em
que através da resignação e dedicação a um ideal ascético, o hominídeo se
transmuta em sábio contemplativo.
Parafraseando
Nietzsche, esquece que a demonstração de bons sentimentos é ainda assim, uma
arrogância moral baseada na expressão de um comportamento não arrogante
moralmente.
É
provável que o Vasco nunca tenha sido espancado até ao coma, horas antes de um
SLB-FCP, na estação de serviço de Aveiras, apenas por ter um cachecol do SLB,
enquanto aguardava pacatamente que amigos e familiares regressassem ou da
pastelaria ou do WC. Que a estação de serviço foi completamente desfeita e
roubada, no meio de gritos e desespero, por 3 autocarros com ‘adeptos’ do FCP,
que pararam ali, a caminho da capital, pela qual nutrem um ódio condicionado,
que resulta nestas guerras de presúria. Guerras essas encaradas com meios
policiais exíguos e compostos por elementos também eles conotados
clubísticamente, e que cuja conotação tem um impacto directo nas formas de
lidar estabelecidas de forma isenta, mas que na prática servem apenas como
manual de estilo, opcional.
É
provável que o Vasco, nunca tenha sido acossado na Avenida dos Aliados, quando
foi impedido de festejar o título do SLB, com a complacência das forças de
segurança, ‘incapazes’ não só de garantir a igualdade de direitos de adeptos de
um clube, mas de controlar uma imensa multidão de delinquentes opressores, cuja
única argumentação se baseia na cobardia da violência.
É
provável que o Vasco nunca tenha trabalhado perto da filial do FCP (não a de
Alvalade) em Lisboa, e passado ao lado, certa noite, de festejos pela conquista
do título, da multidão de adeptos portistas que celebravam em liberdade e
alegria a conquista do seu clube.
O
caro Vasco, tem maior capacidade de encaixe, uma superioridade moral até, para
com a repetição das mentiras divisionistas, elaboradas pelo senhor Pedroto.
Que
por detrás delas está uma estratégia de sobrevivência e sucesso, as únicas
possíveis, enquanto o Sport Lisboa e Benfica mantiver a dimensão e simpatia que
ainda tem em Portugal.
O
ódio a Lisboa e ao Benfica, não têm a ver com mero atavismo de alguns dos
intervenientes, mas com o lado amaldiçoado de o Benfica ser tão grande. E
portanto, a condenação ao ódio é o único caminho para SCP e FCP, conseguirem
subsistir e até ultrapassar o SLB. Pactuar com esse ódio e estratégia, não é
ser um missionário pela paz, apenas um benfiquismo que se exprime em anular o
Benfica.
O
ódio a Lisboa congrega a massa adepta mais radical, e talvez despojada pelas
circunstâncias da vida. Mesmo esquecendo que Lisboa também tem os seus despojados.
Como
o Benfica não é só Lisboa, promover ódio ao Benfica, é promover também uma
reacção adversa em todas as estruturas de futebol, associações distritais, etc.
Por
ser também um clube nacional, a guerra de surdina, opera-se a nível nacional
também. Mas segundo Vasco, os eventos cataclísmicos não podem ser originados de
efeitos cataclísmicos. O terramoto de 1755 foi originado por um leve resvalar
de areias marinhas, culpa de um linguado que nadou demasiado rápido junto ao
fundo.
Nenhuma
revolução nasce de cafoné. É uma pena, de facto.
Mas
é.
Portanto,
o caro Vasco, interpreta mal a virulência de Varandas. Como interpreta mal a
igualdade de virulência das reacções dos adeptos benfiquistas, aos ’40 anos
disto’.
Não
são meras tentativas de incendiar, caro Vasco.
São
sim, expressões de desespero. Desespero por um sistema de coisas que dura há
mais de 40 anos. Onde vês codependência e co responsabilidade, eu vejo a
falência de estruturas desportivas, judiciais, culturais e até de integridade
territorial, tudo em benefício de uma estratégia de sobrevivência, por parte de
quem manipula a indigência moral e cultural dos seus adeptos, para conquistar e
manter poder. Apelas a que se não responda na mesma moeda e se ofereça o outro
lado do rosto. Podia dizer que és cúmplice, assim, desta estratégia. Mas não
chegas a isso, pois quer SCP (menos), quer SLB (mais), são incapazes de
responder nos mesmos moldes.
Não
têm a carta do centralismo. Não têm o hábito de promover a acefalia por conta
da repetição ad nauseam de mentiras tornadas lugares-comuns, como a ideia de
que o SLB era ajudado por Salazar.
Não
têm tanta gente sem escrúpulos, capaz de aumentar sempre mais um pouco, o nível
da espiral descendente.
Não,
em Varandas, não vejo a erupção instrumental que tu vês.
O
que vejo é mesmo o desespero de anos, de observação, e o sentimento de
impotência de se saber nunca ser capaz de lutar com as mesmas armas, e de
esperar que uma mão amiga, leia-se neutra, vir colocar ordem nesta coisa, ou
pelo menos deixar os sedimentos pousar, para que a lama se torne mais clara.
O
Apito Dourado foi o desfecho que se conhece. Passados todos estes anos, é já
completamente relativizado. Até os portistas se sentem ofendidos se o caso é
mencionado.
Com
essa relativização, os benfiquistas padecem de um gaslighting constante,
como se nunca tivessem visto o Vitor Baía defender uma bola fora da grande área
sem ter o castigo decorrente, árbitros a fugir pelo campo à frente dos
jogadores do FCP, uma gravata do Jorge Costa ao João Vieira Pinto, sem castigo
decorrente, golo anulado ao Amaral, por um fora de jogo, em que o dito jogador
parte do meio campo…e outros tantos casos, que por não serem condenados e que
outros como tu apelarem a uma ideia de que para o ano é que é, ou que é preciso
dar a outra face, justificam sim, que somos todos culpados. Mas lá está, uns
mais que outros.
Que
os 3 grandes devem ter cometido ilegalidades, tráfico de influência e coisas
mais censuráveis, que os restantes? Sem dúvida. Mas a questão mantém-se, como
lutas com um porco sem te sujares?
Ou
fechas loja ou calças galochas.
III
Um
bom exemplo disto é o senhor Pedro Guerra.
A
maior parte dos benfiquistas, creio, não se revia no estilo, do citado
cavalheiro.
Mas
como fazer frente a Eduardos Barrosos, Pinas, ou Serrões, cujos recursos
estilísticos apaixonados, truculentos e viris, atropelavam sensibilidades de
Simões, Searas, etc, nos programas desportivos deploráveis mas potentes, como
tu e o Presidente Marcelo bem sabem?
O
SLB retirar-se completamente desse tipo de lama, concede carte blanche para
propaganda e incentivo ao ódio running free, pois a ERC está-se borrifando.
Repito
a questão, como podes sair limpo de uma luta com um suíno, num lago de lama, se
o que pretendes está do outro lado e não podes ir à volta?
Como
resolves o problema de os adeptos que ganham, justificam a potencial corrupção
na origem dessa vitória, por a valorizarem os fins acima dos meios?
Como
resolves o problema de seres respeitado pelo cumprimento da lei e respeito
mútuo, por parte de gente que só é capaz de respeitar o argumento da força?
Como resolves o problema da aceitação do actual sistema, por via da sua longevidade e eventual resignação das pessoas, que constatam que nada pode ser feito, pois a corrupção e a trapaça voltam sempre a emergir sob novas formas?
O
teu texto, Vasco, faz-me lembrar as declarações do Sérgio Conceição ou do
jogador Nuno Santos, resumidas num ‘somos assim, mas temos bom coração’.
Tu
tens bom coração, e boas intenções.
Mas
ninguém vai dar ao SLB o que queremos, igualdade de tratamento. Isenção.
Mas
podes sempre ir esperando que um linguado ou uma solha perturbem as areias do
charco, para ocorrer um terramoto.
Simplesmente BRILHANTE! O Benfica está cheio de "vascos mendonças", que não querem sujar o Armani, a começar no nosso presidente, um homem de selecção que tem uma imagem a preservar.
ResponderEliminarVamos continuar a ser alvo de uma chacina publica, que é evidente e cresceu nos ultimos anos, com a conivencia e complacência de vários mendonças.
Até quando?
Viva o Benfica
Excelente texto. Um dos problemas do Benfica é exactamente este. Ter estes Vascos bananas (como o presidente rui), que acham que com paz e amôr se chega lá. "Como lutas com um porco sem te sujares?" Lá está, não o consegues fazer. Mas o Benfica insiste em ter estes pamonhas a posar-se como elementos do Benfica, quando nunca defendem o Benfica, basicamente vão para umas conversas e são enxovalhados e com eles o Benfica. Ajudam e de que maneira a passar a narrativa que os corruptos querem. Estes "comentadores" benfiquistas, mais não têm sido que "idiotas úteis" já que simulam representar toda a massa benfiquista e autorizam por passividade todo este lodo. As responsabilidades que ele diz partilhadas, são partilhadas sim, por ele e por muitos outros comentadores "benfiquistas" que mais não fazem que fazer de caixa de ressonância das estratégias dos rivais.
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