A galocha e a prosápia de Sofia Oliveira

Pese embora alguns completos disparates que tornou seu apanágio, a senhora Sofia Oliveira por vezes consegue uma leitura próxima da realidade. Natural, pois um relógio analógico avariado está certo duas vezes ao dia.

O que Sofia menciona no seu artigo, é decorrente da ideia de jogo 'gegenpressen', habitual numa escola alemã de futebol.

A mesma visa asfixiar o oponente, na hora de saída de bola, pressionando seja via corte das vias de passe, seja pela marcação cerrada e em bloco. Tal marcação visa provocar ou a perda de bola em terrenos recuados, no meio campo ofensivo, ou a incapacidade de sair a jogar.

Para esta ideia de jogo, são necessárias algumas características, tais como a intensidade, e a reacção rápida à perda. 

Sofia, é mais uma que vê em Grimaldo, o mago de um sucesso passado. Convenientemente, pois era precisamente Grimaldo, o alvo privilegiado, para desmontar a equipa do SLB no passado recente.

Há uma outra componente do 'gegenpressen' que o scouting do SLB tem descurado. A capacidade de ganhar duelos no meio campo ofensivo. Por isso, temos repetido ad nauseam, não se pode ter naquela posição, jogadores como Rafa, João Mário, Di Maria, Chiquinho. Nenhum destes tem virtudes defensivas, de pressing, ou de capacidade de choque contra trincos mais corpulentos.

Não aprendemos com o jogo em Braga, onde o meio campo foi de Racic e Musrati.

Schmidt é teimoso, e nisso Sofia tem razão. Schmidt encara as derrotas, como um dia de chuva nos Verões da vitória.

A falta de combatividade no meio campo, é o que força os avançados a desgastarem-se o jogo todo, a pressionar a primeira fase de construção.

É o que faz Schmidt não jogar com um avançado fixo, e optar por povoar o miolo para não deixar respirar o adversário.

 

'É raro jogar contra um adversário que pressione alto, o Benfica.Numa tarde do campeonato passado, o Benfica jogou contra o FC Porto. Apanhou uma pressão alta, perdeu o jogo. Sinceramente, não fez diferença. Num campeonato inteiro, aconteceram quê? Uma, duas vezes? É raro o Benfica apanhar pressões altas, na Liga Portuguesa.'

Ao contrário do que Sofia diz, o problema não é apanhar um adversário que pressione alto. É apanhar um adversário que pressione alto, e bem. Geralmente a pressão acaba aos 60 e poucos minutos, porque as equipas de meio da tabela, ainda não vão aguentando os 90 minutos com esta táctica. 

O SLB tem confiado na capacidade técnica dos seus jogadores, para contrariar esta contra contrapressão. Mas falha rotundamente em equipas mais motivadas e com jogadores também evoluídos tecnicamente. 

E na época passada perdemos títulos por isso.

Porque o adversário povoa igualmente o meio campo, e anula a teia com duelos individuais a cada passe de bola.

João Mário, foi na primeira parte da época, fulcral na questão de posse e circulação de bola. A recuperação da mesma, possibilita ao adversário, iniciar o contra ataque, com um hiato entre o meio campo e a defesa, porque não temos um trinco diferente de Florentino.

Para o 'gegenpressen' de Schmidt funcionar, é necessário sine qua non, que se reunam várias, demasiadas condições: frescura física, superioridade nos duelos pela posse de bola e aéreos, poucas perdas de bola, e ter jogadores naturalmente intensos. Na falta destes, pressionar em bloco e à maluca, como vemos sempre que perdemos a bola e Rafa por exemplo vai atrapalhar, mais que tentar roubar a bola.

São demasiadas variáveis que podem falhar.

Por isso, o sistema de Schmidt, é como um sensível relógio, de alta qualidade, para funcionar, tem de estar muito calibrado.

Invariavelmente o SLB é apanhado com este hiato no meio campo, e por isso são necessários centrais subidos, que não podem subir, pois o nosso guarda redes é uma nulidade com os pés.

De um ponto de vista táctico, Schmidt é um génio, pois consegue resultados com jogadores que não são os ideiais para o seu modelo de jogo. Estrategicamente, é burro, pois não tem modelo alternativo de jogo, para quando o treinador adversário, faz o trabalho de casa.

No tugão, vale o talento individual dos nossos jogadores. Lá fora, é diferente.

De há umas épocas a esta parte, o problema do SLB é no meio campo, saído Grimaldo e Weigl, que não ganha duelos, forçando transições que impedem a contrapressão, porque andamos a correr atrás da bola, e demasiados passes falhados que reflectem a falta de opçoes e de qualidade técnica de alguns jogadores, para já não dizer falta de vontade de facultar linhas de passe.

'Jurásek não é Grimaldo. O lateral espanhol, quando recuado, através da sua exímia leitura de jogo e/ou da sua excepcional qualidade técnica, era capaz de inventar soluções face a opositores que lhe encurtavam o espaço, que o obrigavam a pensar e a executar mais rápido. Grimaldo era uma referência na primeira fase de construção'

Sofia deve conhecer Jurásek como qualquer Benfiquista conhece, dos jogos que já fez connosco. Por estes jogos, Sofia já avaliou a qualidade do jogador. Tal como avaliou uma qualidade que Grimaldo não tinha, inventar soluções. Grimaldo raramente saía a construir se não tivesse espaço e adversários perdulários. Vinha sempre para o meio, e o Grimaldo que a Sofia menciona, é o do que jogava em final de contrato, e não do que passava o resto dos anos a recuar lentamente, a deixar o extremo centrar, fechando no meio, mesmo quando o seu companheiro de flanco não estava lá para ocupar a lateral.

Era o Grimaldo que ajudou a queimar Ferro e Vertonghen.

Curioso como a adepta do clube do Pedro Barbosa, apenas lembre o melhor Grimaldo.

'Do outro lado, Bah apresenta melhores argumentos no momento de descobrir o passe certo sob pressão, acrescentando a essa capacidade a de romper em condução, contudo, sob pressão, também é um lateral bastante dependente da equipa, menos auto-suficiente do que Grimaldo'

Percebe-se  a intenção de Sofia.

Habituada ao Vinagre, aspira a ter o Grimaldo que lembra com saudade.

Aquele que não sabia defender, e a quem nunca ninguém contabilizou os golos em que foi responsável.

Ninguém lembra que Cervi se perdeu como jogador, pois perdeu a criatividade que tinha no flanco, para ajudar a fechar uma lateral, onde o defesa não sabia defender.

A intenção de Sofia também é perturbar, aludindo manhosamente, à contratação de 12 milhões de euros, excessiva, por um lateral, mais útil que Vinagre.

Sob a capa da análise de futebolês, com o jargão da moda, ela passa por conhecedora. Infelizmente é só fachada devido à sua memória selectiva.

Apesar de não ter gostado das derrotas, dou de barato o que se passou com o Burnley e Feyenoord.

A equipa estava rota e não teve claramente capacidade de pegar no meio campo.

De há uns anos a esta parte, qualquer equipa de meio de tabela, mete jogadores corpulentos e truculentos no miolo, para atrasar e perturbar a posse de bola e jogar em transição.

É pois natural que Sofia prefira um jogador que facilmente perdia na disputa corpo-a-corpo.

Ao contrário do que Sofia diz, Grimaldo não era procurado pelos colegas para receber a bola, pela sua técnica estonteante, mas sim porque o meio campo estava saturado, e a atacar, Gri, é de facto BOM.

Continua a mandar postais Sofia.

Só para os desatentos, é que continua a ser um mistério, o tempo de antena dado a esta influencer da Young Network. 

É  só mais uma prova em carbono, da influência do polvo verde na comunicação social.

Admira-me é blogues Benfiquistas publicitarem esta excelsa senhora.

Viva o BENFICA.