Espirais regressivas
1)
Passados alguns
dias após o jogo vergonhoso, mais um, na Luz, decidimos voltar a postar no
blogue, Fulgor Vermelho, que conforme o nome indica, não é encarnado
esmorecido, mas escarlate bem vivo.
Antes de mais, e
como temos repetido várias vezes, a chamada ‘bipolaridade dos adeptos’ é um
tema muitíssimo mal entendido e formulado.
Nada tem que ver
com uma bipolaridade de facto por parte de quem gosta do SLB, tendo mais a ver
com a exigência, geralmente daqueles que ainda têm memória, dos últimos anos do
expressivo e gigante BENFICA, que conjugava não só os melhores jogadores do
campeonato, como os mesmos, eram homens e não meninos de redes sociais.
Até porque não
existiam.
Aquilo a que
alguns chamam, jocosamente, de ‘bipolaridade’, mais não é o ciclo entre vitórias
e derrotas, que são inconcebíveis para quem conheceu planteis do passado Benfiquista,
que nada têm a ver com estes que nos envergonham.
Quando parece que
está tudo a voltar aos eixos, eis que desaba da pior maneira. Porque o
desespero não vem da derrota em campo. Jogam uns contra outro, é desporto,
enfim. A derrota em campo, nada tem que ver com o número de golos marcados.
Tem a ver com a
postura das equipas do BENFICA em campo.
Os atletas são
mais que profissionais da bola. São representantes do espírito da maior
instituição desportiva portuguesa, com uma história riquíssima de superação,
competência, rigor, e…garra.
Sim, não há ‘jogador
à Porto’, o que existe é um decalque tornado paradigma, do clube da fruta em
relação às nossas equipas, que com o passar das décadas se aburguesaram. Isso
da malta do Norte (a Terra é esférica) ter características especiais
relacionadas com labor e pureza de espírito, é um mito racista propagado por um
antropólogo racista e apoiante do Estado Novo, ao qual Pedroto foi beber
informação.
As equipas do SLB
sempre, sempre foram aguerridas.
Faz parte do ADN
do Clube.
O Clube era um
local de democracia que antecede a mesma em Portugal. O Clube era o local de
catarse e união por parte dos desapossados ao longo das gerações, que não se
reviam em equipas aburguesadas, enconadas, amorfas e conformadas.
Daí a expressão ‘tribunal
do 3º anel’.
O Schmidt não
inventou o gegenpressen, nem nenhum alemão.
Os conhecidos ’15
minutos à Benfica’ foram sempre uma tradição dentro dos modelos de jogo.
Pressionar,
marcar cedo, e gerir o resultado.
Décadas a fio.
Dos anos 90 a
esta parte, temos tido dirigentes péssimos, que não só não mantiveram a mística
referida, como gradualmente contribuíram para que se perdesse.
Rui Costa faz
parte dessa lista.
Não há, ninguém
que perceba de futebol naquele departamento, antes havendo malta de fezadas.
Ah, mas o SLB é o
Clube que mais vende.
Não só vender é
algum prémio, como também seria melhor que o maior Clube português não
facilitasse transferências de jogadores elevadas.
Ninguém percebe
de futebol naquele departamento.
Vou dar um
exemplo que custa a engolir a muita gente. O gajo do Braga, o Salvador, percebe
de futebol.
Consegue
encontrar jogadores de qualidade por baixo preço.
Ricardo Rocha,
Tiago, Armando, Rafa, Al Musrati, Ricardo Horta, e tantos, tantos outros, são
jogadores que o presidente deles valorizou, pese embora a diferença de
dimensão.
O senhor de Vigo
também o fazia, e foi isso a base do seu reinado. Alguém se lembra de um
Emerson do Belenenses ou de um Deco do Alverca?
Há quanto tempo
não vai o SLB buscar um Talisca ou um David Luís?
Certo, foram
buscar o Darwin à 2ª divisão espanhola, mas por 20 e tal milhões.
Há quanto tempo
não vamos buscar jogadores africanos, com scouting para aqueles lados?
Jogadores
japoneses, ou de outros mercados não tão pressionados?
Há quantos anos
não contratamos os melhores jogadores do nosso campeonato, nós que estamos 10
anos à frente?
É altura de o Rui
Costa declarar publicamente que ou os clubes em Portugal secam as contratações
ao SLB, por exorbitâncias de valores, ou então que a nossa direcção é um bando
de patos bravos com manias burguesas.
Como não
contratámos Ugarte?
Andamos há anos
só com Florentino.
O BENFICA tem scouting?
2) Temos de
deixar de comprar jogadores por catálogo.
Há um elemento
que vale por mais que a capacidade de chutar uma bola. É o facto mental.
Andamos, e bem,
deslumbrados com o João Neves, que deixa tudo em cada jogo.
É o jogador à
BENFICA.
Tornou-se tão
raro ter jogadores assim, que deixámos de ter isso como algo de natural.
E vamos estragar
João Neves, porque os dois últimos dirigentes, criaram um Benfica à sua imagem,
um Benfica do culto da imagem.
E depois
espantam-se que fazem 5 faltas, na Luz, contra a Real Sociedad, e têm 30% de
posse de bola.
Estou à espera
que daqui a pouco, Rui Costa venha dar outro murro na mesa e dizer que se vai
ver quem é que quer realmente ficar no SLB para a próxima época.
TEMOS DE PASSAR A
CONSIDERAR EM ABSOLUTO; O FACTOR MENTAL E COMPETITIVO DOS JOGADORES A
CONTRATAR.
Ao jogador tem de
ser dito que vai ter de ganhar o lugar, e que nem isso lhe é garantido.
Na equipa
titular, têm de estar pelo menos 3 jogadores com mais de 10 anos de SLB, núcleo
duro de capitães e invendáveis. Humberto Coelho, com 1,83 metros, por algumas
vezes colocou em sentido, jogadores acabados de chegar, que falavam demasiado
para os rascordes da altura.
Hoje tudo é polido,
elegante, inclusivo.
O culto da
imagem, a falta de critério na escolha de jogadores, a falta de visão dos
dirigentes, para quem o Clube é só mais uma profissão, estão na raíz desta
moléstia que insiste em não sarar no Clube.
O problema não é
só nosso, nem é apenas só visível nas derrotas. Relembre-se Alcochete, onde a
menor correspondência de entrega, resultou num acto selvático. Que é
completamente reprovável, mas que que visava claramente dar resposta e obter um
resultado de maior compromisso.
Meter nervo
naquela malta. Só que correu mal, e nunca devia ter ocorrido.
No SLB temos de
retomar esta cultura de exigência de compromisso total, começando desde logo na
erradicação do culto da imagem. Apaparicam-se os jogadores, tornados vedetas,
pois isso faz parte do merchandising do Clube. Mas há forma de o fazer.
O recente mural a
celebrar os 20 anos do novo estádio, é de um provincianismo atroz. Faz parte
dessa cultura da personalidade, da elevação do indivíduo acima do colectivo.
Veja-se a recepção feita a Di Maria.
Gostava de um dia
perguntar pessoalmente a Rui Costa, se alguma vez viu em Itália uma recepção
igual, e se os italianos são tão conas como os portugueses que foram assistir.
O SLB está infestado
de provincianos, a BTV está cheia de culambistas, que tentam não ofender nada
nem ninguém, apenas para agradar ao maior número.
Há que encarar a
verdade, os jogadores vivem uma fogueira de vaidades e mandam na equipa.
Não concordo com
muita coisa de Schmidt, mas está a ser cozido tal como foram Rui Vitória, Lage,
JJ.
Com exibições
apagadas e a roçar o medíocre, de forma regular.
Mandámos embora o
Pizzi, e todos os que se dizia fazerem uma espécie de grupo dentro do grupo.
O talento não é
regular. Regular é apenas a entrega.
Os carregadores
de piano ganham campeonatos, os talentos ganham jogos.
Por isso, para
qualquer jogador, a prioridade deve ser sempre deixar tudo em campo. Mas não é.
A prova de que no
departamento de futebol ninguém percebe de futebol, está no facto de andarmos
há anos para ter um substituto de Grimaldo, André Almeida e Samaris. Depois, de
um Renato ou de um Krovinovic, (que nunca mais foi o mesmo depois da lesão), ou
de Enzo Pérez.
Vende-se tão
facilmente, sem sequer ter substitutos à altura.
Não se arranjou
substituto para Grimaldo, até Kerkéz optar por outras paragens.
E depois em
desespero foi-se buscar o actual elenco da esquerda.
Bah, chegou cheio
de força e de vontade. Desafio a todos a irem verificar e rever os primeiros
jogos que fez.
Cedo aprendeu que
é vedeta, e que o lugar está no bolso. Aprendeu também pelos colegas, que se
perder o lugar, pode fazer birra e ameaçar que se vai embora, para o voltar a
ter.
Algo de muito
estranho se está a passar no futebol do SLB, e espero que seja apenas uma
estratégia concertada para foco exclusivo no campeonato. É péssimo, é indigno,
mas ao menos tem um racional explicativo.
Bah e João Mário
não têm mentalidade para jogar num clube como o SLB. São bons jogadores, o João
Mário é um grande jogador, mas é curto, no cardápio de exigências para o Manto
Sagrado.
A tendência de
vender tudo o que mexe, delapida a equipa. Perde-se mística. Perde-se garra.
A equipa está mal
feita, e sem gente suficiente com nervo, para dar a volta.
O Kokçu é uma tremenda
desilusão, Ramos foi vendido sem haver alvo identificado, Cabral veio em
desespero de causa.
Para calar os
adeptos.
Não se percebe a
postura de Schmidt. Parece estar a tentar mostrar algo a alguém.
3)
Para mim, e vale
o que vale, Rui Costa não tem perfil para a função que lhe caiu no colo.
Apenas percebe do
futebol de vedetas.
Não tira coelhos
da cartola. O que se entende pois foi um dos melhores 10 da sua geração.
Não sabe olhar
para uma equipa modesta e identificar um jogador com potencial.
Pior, não sabe
delegar funções em quem o consiga fazer.
Temos gasto mal e
demais.
Não corremos
mercados mais baratos… e o resultado, está na desmoralização da equipa.
Numa altura em
que todas as equipas jogam em intensidade, temos um plantel com claras lacunas
físicas.
As sabotagens e
tiros nos pés, são tantas que deixo de acreditar que não são intencionais.
Face ao que se
tem passado no miolo, 35 milhões por Al Musrati, seriam mais baratos que o
buraco que agora temos no miolo.
Tengsted e Schjeldrup,
teriam ficado um pouco mais baratos que Ricardo Horta. Não defendo dar dinheiro
ao pedreiro do Salvador, mas encontrar alguém que consiga identificar talento e
antecipar-se na contratação no mercado nacional.
Mas nem critico o
arriscar estes dois jovens.
Critico é
contratar pelos nomes. Critico é escalar mal as contratações.
Critico é não
resolver os problemas visíveis com o Burnley, e que se mantém.
Temo que Schmidt
não saiba mais. Encontrou no campeonato português, a sua Némesis, onde
treinadores dos distritais o eliminam ou anulam, com mais facilidade que os
treinadores na Bundesliga ou dos Países Baixos.
Não vou, como
muitos cataventos, dizer que vou dar mais uma oportunidade ao plantel, e
aplaudir quando surgirem as vitórias categóricas, tal como não vou exigir que
Schmidt seja despedido para branquear a incompetência da direcção. Relembro que
o ano passado, jogámos futebol até venderem o Enzo.
Depois foi um
sufoco até final.
Eu e mais uns
poucos, continuamos a insistir nesta questão de mentalidade, que está ausente
quer de uma estrutura aburguesada quer dos campos do Seixal.
Os únicos a ter
garra são os miúdos. O Lucas Veríssimo também tinha. O João Neves tem.
Quem mais?
Há algo de
radical a fazer, e o que mais lamento nem são as etapas duras dessa tarefa, mas
os adeptos e comentadores que criticam a bipolaridade sem saberem de onde vem.
Como se o BENFICA fosse um mero mealheiro de vitórias, e não uma galáxia de
princípios.
Que eles desconhecem.
Viva o BENFICA!
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