Barco Vermelho

 





Não me fizeram sócio do Glorioso, quando nasci.

Nem dinheiro havia para comer, quanto mais para a bola.



Decidi por mim escolher um lado. Escolhi pelo nome e pela cor.

Bem Fica.

Vermelho, de sangue, de vida, de paixão.

Escolha feita, não havia forma de retroceder, mudar de opinião. Não seria eu.

Podia ser do Sporting Clube de Portugal, mas em mim, algo me dizia que não era aquela a minha casa.

A minha casa é o coração pulsante de uma Instituição Portuguesa que me precede.

A palavra ‘Lisboa’ ajudou-me a situar.

Adoro o azul, do mar, mas nunca seria do Futebol Clube do Porto.

Se tivesse nascido em Campo Maior, talvez fosse do Campomaiorense, ou do SCP.

Não nasci. Nasci no mundo, e por isso sou do Sport Lisboa e Benfica.

Fiz a estrada íngreme que me levava da televisão disponível, a minha casa, a chorar.

Chorava copiosamente, a final perdida com o PSV Eindhoven. O nosso melhor jogador, o nosso capitão, Veloso, falhara uma penalidade.

Gostava de ter os dons de ser dirigente para melhor criar as condições para não voltarmos a falhar.

Não mais podia permitir a luz dos meus olhos, ficar aquém da glorificação que lhe é devida.

Falhar, para um Benfiquista, é uma situação de extremo desconforto, não é hábito, nem nos conformamos.

Só a vitória nos aplaca da dor de não elevar a Instituição a cada vez maiores patamares de glória.

Mas o que há a glorificar? É apenas um clube de bola.

Nada disso, o Sport Lisboa e Benfica é uma ideia. Um paradigma de existência, não regateável, pleno de força, imparável.

Não visa senão a sua própria glória, como expressão da glória daqueles que representa.

Do povo comum, pobre, andrajoso, e dos outros também.

Dos lisboetas. Do resto do país, despojado e imbuído do mesmo espírito.

Do resto do mundo, onde é possível perceber a cultura destes 92 000 km2.

O Benfica é uma força positiva, uma representação institucional, captada nos símbolos da águia e do vermelho e branco, da paixão e da paz, a favor do enaltecimento próprio em plena vida que quase sempre tenta anular o viço da individuação.

O Benfica não tem inimigos.

O Benfica não visa esmagar outros. Nem se compara a eles.

O viço do Sport Lisboa e Benfica, é celebrar a unidade dos desapossados, unidos por uma ponta de lança que os represente.

Mas não é só do povo, que se o fosse, não era inclusivo. O Benfica é de todos, que o abracem no peito.

De ricos, de pobres, de remediados. Desde que unidos.

Amar uma instituição é possível? Amá-la SEM odiar outros?

É.

Amar o Benfica é amar o melhor que existe em Nós.

Amar é valorizar acima de tudo o nosso apego emocional a algo.

Eu e tu, valorizamos as vitórias no futebol, no bilhar, no pingue-pongue.

 Não interessa, nós amamos uma ideia, cristalizada no emblema do nosso clube.

Águia que voas em altitude, superior a tudo o que rasteja sobre ti.

Só tens olhos para o Sol, e a altitude é o teu meio.

Nunca achei o meu Benfica feio.

Enquanto o Benfica tiver lugar para sócios, simpatizantes, adeptos, além de clientes, o meu coração estará sempre cheio.

Porque um clube que visa a glória continuável, é sempre lucrativo. É sempre uma forma rápida de aceder às emoções das pessoas, ao capital emocional de gerações.

Não sou saudosista. Não sou totalitarista.

Pelo contrário.

Lamento até, ter de olhar muito para o passado, para me orgulhar do meu clube.

Não são meras vitórias de bola.

São vitórias de um ideal, bem expresso pelos Fundadores.

Por amar o meu clube, não o faço sobrepor a outros.

Ainda bem que existem, nem todos têm de pensar igual.

Eu sou do clube mais positivo, democrático e progressista de Portugal. O maior da Europa.

O Benfica é algo de especial que não se explica ou define, mas que se reconhece.

Podes ser do Benfica por causa das vitórias, eu sou, por causa do Benfica.

Apelo à união, Rui Costa não era o meu presidente. Mas agora é, e todos que façam honra o que o SLB sempre foi.

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