O ainda erro táctico de Roger Schmidt
O ruído infernal
nas bancadas fez-me olhar para os pelos dos meus braços, para os ver
dirigindo-se aos céus como que numa prece de agradecimento ao Firmamento.
Lágrimas
escorriam-me pelos olhos, tal como no dia em que perdemos a final da Liga dos
Campeões Europeus para o PSV Eindhoven.
O meu Benfica
havia chegado ao seu elemento natural, a glória, e descido ao Inferno do
contentamento, nas grandes penalidades.
Foi mais o pathos
que o resultado, que me fizeram chorar.
Ainda há pouco ao
ouvir Roger Schmidt falar, vieram-me também as lágrimas aos olhos.
Não por preferir
treinadores estrangeiros a portugueses. Mas por sentir que é mais uma alma que
faremos nossa, com o nosso apoio a partir das bancadas.
Ele sabe que o
SLB é um grande clube. Vê na folha de ordenado, nos jornais, e nas crónicas da
bola pretéritas.
Mas nunca te viu
a ti ou a mim chorar na bancada por derrotas ou vitórias.
Imersos numa mole
de indivíduos esporrando em uníssono um coro báquico de apoio, na inundação
emocional que importa, a vitória para o engrandecimento do SLB.
Não no fatalismo de
Ícaro, que voava demasiadamente junto ao Sol, para de seguida cair.
Não. Ícaro era
alienígena às alturas da glória, e por isso reconduzido ao elemento terra.
O SLB, simbolizado
por uma águia, é um clube do éter, mitológico dentro dos mitos, representante
de uma península que teima dividir entre Madrid e Barcelona a atenção da velha
Europa.
Basta de ter um
entendimento de sucateiro do que é o SLB. 20 anos, de labor, mas basta. Honra
aos que passaram, é altura de evoluir da implosão. Se Rui Costa não está à
altura, ceda o lugar a outro…o seu ego não pode ser maior que o amor ao SLB.
Repara, eu disse ‘amor’.
É mesmo isso, amor a uma entidade abstracta, onde caibo eu, tu, e o nosso
inimigo.
A glória do SLB
não se faz contra ninguém, ou contra nada. A ideia de SLB é a de um ideal no
qual só a vitória e a elevação contam.
O verdadeiro
Benfiquista só na glória se sente em casa. Não para humilhar o colega no trabalho,
adepto de outro clube. Não para servir de paliativo de uma vida miserável onde
a adesão a um clube ganhador garante alguma dose de morfina.
O adepto do SLB
vive as vitórias e derrotas do clube de encontro a uma parede, a parede do seu
amor pelo clube como se o mesmo fosse o seu melhor amigo ou uma mistura entre
amigo e pai nascido em 1904.
E sempre que
perde, vê-se privado do seu oxigénio administrado por via intravenosa, a glória
do seu Clube.
Não é adepto por
parasitismo da glória da instituição abstracta.
Não.
É adepto por
vigor próprio na adesão a um capital simbólico que se reflecte na ida ao
estádio e visualização da exultação dos milhares de iguais a si, que celebram
aos céus, a honra de participar num movimento colectivo que celebra a vontade
de viver e ascender ao trono dos deuses.
O adepto do SLB é
obreiro de toda a glória do seu clube. Como formiga laboriosa que desloca mais
uma peça do puzzle. Não como mero cliente que paga, como que num lupanário, um
serviço segundo o qual pode exigir um resultado.
Isso é o que os
falhados do marketing e da gestão não percebem no fenómeno desportivo. Eles são
pulgas à boleia, e não a parte realista da equação.
Parasitas de um
movimento colectivo de miríades de humanos com origens e histórias diferente,
muitas miseráveis e tristes.
Por isso defendo
que no SLB só podem estar Benfiquistas a trabalhar. Sempre fomos um clube
inclusivo, de raças, credos e estratos sociais.
De pessoas que
são Benfiquistas porque os progenitores os inscreveram antes de terem alguma
forma de exprimir vontade, ou outros que como eu, escolheram em ambiente
contrário, ser do Benfica.
De pessoas que
podiam ter lugar cativo nas bancadas centrais, a pessoas que tinham que lutar
com as contas mensais para poder participar no éter da Existência.
De pessoas que de
um momento para o outro se viram proscritas por hooligans que delinearam uma
geografia contra outra, com represálias para os ‘traidores’.
Uma vitória do
Benfica é mais do que uma vitória de um clube de futebol.
Uma vitória do
Sport Lisboa e Benfica é uma vitória da vida sobre a morte, do eterno sobre o
efémero, do amor, sobre o ódio.
O foco absoluto
na vitória não admite espaço, não dispõe de espaço, para albergar ódio ou outro
sentimento que não a devoção pelo nosso Clube para que chegue ao éter.
Não é para tirarmos
partido efémero dessa glória. Chafurdando na cara de outros as nossas vitórias.
Não.
É para
regozijarmos entre nós, pela partilha do amor colectivo que emana do nosso amor
comum a uma Instituição que nos representa. O Sport Lisboa e Benfica.
É essa natureza
do Benfica, que o senhor Roger Schmidt ainda não conhece, mas vai conhecer em
breve.
É por isso que
qualquer treinador ou jogador, que tenham carácter, que participaram nesta
dialéctica, se tornaram para sempre Benfiquistas.
É por isso que tu
ou eu regamos o cimento com lágrimas de acordo com o que achamos ser ou não ser
o merecimento do nosso eu MAIOR. O Sport Lisboa e Benfica, clube português e do
Mundo.
O SLB é a ligação
de n elementos por via do amor à glória, cuja soma é superior à soma das
partes.
Viva o SLB, sejas
bem-vindo Roger.
P.S.: alguém diga
a Rui Costa, que Grimaldo e Weigl, não podem ter lugar no SLB. A agradecer e a
devolver gentilmente ao seu próprio caminho.
Comentários
Enviar um comentário