Origens do aburguesamento no nosso clube


 

(texto escrito após um SLB-SCP)


Quando há uns anos atrás, o senhor Rui Gomes da Silva afirmou que a estrutura do Sport Lisboa e Benfica se tinham aburguesado, deixou passar pelos pingos da chuva os maiores responsáveis desse aburguesamento.



Os sócios e adeptos.



Para mim a diferença entre um sócio ou adepto é a disponibilidade ou capacidade de alienar parte do seu rendimento anual para nutrir uma paixão.



O interessante da paixão é a análise à sua natureza. Quer o sócio quer o simpatizante, sofrem com o seu clube. Aquele que abdica de rendimentos para ajudar o clube pode fazê-lo por, pelo menos, dois motivos: a) o engrandecimento do clube e por arrasto de si, b) investir num adereço de personalidade que é a simpatia por uma instituição, e geralmente isto implica mostrar aos outros.




Ou seja, há sócios que querem engrandecer o Sport Lisboa e Benfica, e há sócios que se querem engrandecer por via da dimensão do nosso clube.

Dirá o tecnocrata que o que interessa é que paguem o tal rendimento anual para ‘ajudar’ o clube. Os adeptos e sócios conhecem esta ideologia, está lá há mais de 20 anos.




Mas há aqui uma questão de fundo, o sócio que paga para obter por osmose as benesses de um clube ganhador, não é um adepto que tenha o clube interiorizado em si, é alguém que vai à boleia, aquele que aparece sempre quando é outro a pagar a conta. Esse tipo de adepto é aquele que paga pelo Benfica como se paga um serviço.




O que nos leva à questão do aburguesamento. Estou à vontade para falar, nunca fui grande apreciador da figura pública Rui Gomes da Silva. Mas perdi tempo suficiente da minha vida a analisar argumentação dele, dos seus oponentes em programas televisivos, e não tenho a miníma dúvida que é tão ou mais Benfiquista que o senhor Rui Costa, o que de certa forma é vago, pois não existem medidas objectivas de Benfiquismo, perguntem ao Paulo Sousa e Pacheco, por exemplo.



E o que Rui Gomes da Silva sempre preconizou foi uma defesa incondicional do nosso clube.


Ironicamente, nos dias que correm, tal defesa implica apenas exigir igualdade de tratamento e respeito pelo enquadramento legal vigente.


É inacreditável que o Palhinha tenha terminado o jogo de ontem, sim é verdade que não jogámos bem.


É inacreditável que o grupo Cofina e outros a reboque, continuem a utilizar o que o Ministério Público divulga (!) para fora dos canais do sistema legal, de forma propositada. Quando a incompetência é sistemática, não é incompetência.

Não posso perdoar a Rui Costa ser manso, e por ser manso quero dizer apenas, não defender o Sport Lisboa e Benfica de forma frontal e cabal. 


Não somos vítimas, não somos cegos. O futebol tem uma importância relativa, mas o Sport Lisboa e Benfica não!


Muitas gerações fizeram-no e mantiveram-no Grande!


É a paixão, nossa e dos passados, que tem de servir para nortear a saída deste marasmo. Alguns dizem, como disseram no passado, que não se pode colocar em causa todo um projecto, por causa de uma derrota desportiva. Todo o projecto falhou! Basta estarmos atentos e verificar os resultados nas modalidades!




Parafraseando o que alguém disse do saudoso Artur Semedo, o BENFICA era a sua religião!


É esse adepto que, quanto a mim, tem lugar no Sport Lisboa e Benfica.


Os outros, os aburguesados, os que gostam de ter um lugar no estádio para mostrar em selfies na reunião lá na empresa de serviços, não.


Não queremos cá Alcochetes, favorecimentos, ganhar sempre, controlar estruturas de futebol. Não.




Queremos competir em pé de igualdade, mesmo neste lodo em que se tornou o futebol pós Bosman.




Ontem ao olhar a nossa equipa, vi um grupo de homens destroçado e com dúvidas no valor próprio, sem moral, e por isso sem vontade de ganhar. Vi um Diogo Gonçalves que teve um ou dois apontamentos de qualidade face a um adversário directo que lhe é superior, mas ainda assim menos visíveis que as tatuagens que parecem se instalar nos braços e corpos de alguns futebolistas ao fim de algum tempo de casa. Ainda alguém se lembra do Grimaldo quando cá chegou? Ainda não tinha os braços cheio de tatuagens.



Nada tenho contra tatuagens nem faço aqui uma fulanização dos insucessos desportivos. Pretendo é arranjar um nexo entre o apaparicamento dos jogadores, aplaudidos mesmo nas derrotas, pior, nas derrotas em que podiam ter feito muito mais, e o sinal de preocupação exagerado para com o que os outros pensam.



Só as estrelas dos média e revistas cor-de-rosa se preocupam em demasia com o que os outros pensam, independentemente dos resultados produzidos. O jogador do Benfica sente-se protagonista de uma telenovela ou longa-metragem, onde é um protagonista apenas passível de escrutínio positivo.


Ao jogador do Sport Lisboa e Benfica, não se exige apenas que ganhe sempre, pois do outro lado também estão outros atletas. Aos nossos atletas exige-se que dê tudo em campo, tudo.


Esta é uma cultura de exigência que me habituei a ver no Terceiro Anel, onde carpinteiros, sapateiros, trolhas, canalizadores, homens do lixo e outros, exigiam o respeito pelo emblema, para o qual e com tanto custo pessoal, descontavam parte do rendimento.




A derrota era tomada como um golpe pessoal, mais do que o facto de ter de encarar os colegas gozões e jactantes no emprego no dia a seguir.



A equipa de ontem, mostrou, como tem feito nos últimos jogos, quebrar psicologicamente após estar em vantagem. Não, não é gerir o resultado, é mesmo quebra psicológica. O atleta de futebol do BENFICA, a quem a bola queima nitidamente os pés, sente que o dever está cumprido se estiver à frente do resultado, ou então se perder por poucos. Está mais preocupado com a avaliação morna dos adeptos que lhe batem palmas quando perde, que com uma exigência interna oriunda de saber o que representa quando enverga aquele SÍMBOLO.




Os atletas, e dirigentes, actuais do nosso CLUBE, são pessoas aburguesadas, apaparicadas, e com vários tipos de ‘tatuagens’, isto é, expressões gráficas para outros verem. É a responsabilidade e aquiescência para com a Liga liderada por um infame lagarto, a arbitragem por irredutíveis portistas, e Ministério Público que pode ser de todos os clubes, menos do clube de respeito pelo segredo de justiça.




Repito, não simpatizo com a figura pública de Rui Gomes da Silva, mas reconheço nele a postura combativa pois, meus caros consócios, não podemos duvidar que o Sport Lisboa e Benfica está sobre ataque. Há muito dinheiro e influência envolvidos. O adepto comum tem razão «-Então vou-me chatear, mas eles é que ganham o belo.». Mas este não pode ser o adepto do BENFICA.




Há algo de mais primal e importante que a mera pertença a uma agremiação desportiva, todo o capital simbólico que nos inspira desde 1904.


Muitos como eu, estranharam a postura de Rui Gomes da Silva. Perante o que se tem passado, até começo a achar a mesma demasiado ponderada para os atropelos que temos visto.


Nunca enxovalhei de forma boçal, o clube do Lumiar no tempo do anterior presidente, ou dos que o antecederam. Vejo que querem fazer do meu clube, uma espécie de saco de gatos, como era esse tal clube, com os resultados intermitentes que se conhecem.




Sempre comentei com amigos portistas, nos anos 90 especialmente, se não tinham nada a dizer sobre os casos conhecidos à altura, sobre jogos consecutivos com agressões anti-desportivas e árbitros a fugir à frente de uma equipa inteira. Percebi a custo, que a corrupção e truculência eram premiadas desde que o seu clube ganhasse. Ouvi muitas vezes «-O Pinto da Costa é que a sabe toda!», como se todo o futebol fosse um lodo, e o nosso lodoso é o melhor, o mais esperto.




Portanto não se enganem caros consócios, não temos, nem precisamos, de aliados, na exigência de igualdade. Na reformulação do futebol português, que está morto há anos, recusando-se apenas a ser enterrado.


Lamento o imenso texto, mas temos de purgar o adepto aburguesado de nós.


O pior legado do ciclo que em breve acabará, é o da falta de exigência e de que o Benfica pode ter jogadores medíocres e dividir resultados à vez, com quem não olha a meios para enxovalhar a instituição com que nos identificamos.



Que sirva este texto como pequena ajuda, para que todos, sócios, adeptos, simpatizantes, possamos refazer com BENFIQUISTAS, todos os corpos sociais, de modo a que no caso das derrotas, cada um assuma como sua e não como um somatório contabilístico a apresentar no final do ano.




Ser um adepto apaixonado não é o mesmo que ser um adepto tresloucado ou boçal.

É ser um adepto motivado e por isso com um elevado tecto de exigência. Mesmo que seja irreal.

Estamos todos fartos da normalização das derrotas contra os «grandes» da Europa, e os nossos jogadores sentem as costas quentes quando perdem por pouco. A baixa exigência é o que normaliza a derrota.



Não me interessa ver o Rafa num jacuzzi com o seu Bulldog francês. O sofrível marketingo do nosso Clube é um excelente espelho da mentalidade instalada, o culto da personalidade, das frases motivacionais sem sabor (e valor), do gajo porreiro mas com muito talento, dos bonzinhos da história.




O jogador, tal como o adepto, nem têm de ser bonzinhos, nem mauzinhos, apenas não serem comidos de cebolada, ou cobardes. Não defendo, mas entendo o factor de motivação arcano nas equipas de Contumil, «-Do nós contra o mundo.».



O Benfica é maior do que isso, mas nem isso tem. Falta paixão ao BENFICA, e o BENFICA somos nós.



Durante anos, nos intervalos em que ganhávamos alguma coisa, eu falava contra o anterior presidente, pois considerava as vitórias insuficientes, e já na altura o rodízio de jogadores cheirava mal. Isto não me dá nenhuma moralidade por aí além, mas ajuda a ilustrar que no BENFICA temos de ser muitas vezes melhor do que os outros, para ganhar, porque de facto, neste momento, somos nós contra o resto.



Rui Costa viu o Hulk e o Sapunaru à frente, mostrando virtudes extrafutebolísticas num túnel.

Foi cuspido e enxovalhado num estádio na cidade do Porto, várias vezes.

Se não percebeu que o nosso CLUBE está sob ataque cerrado, não serve para o lugar que ocupa.

Por muito que chore e imite os argumentos e trejeitos emocionais de quem substituiu.







P.S., este texto foi escrito muito antes das últimas notícias sobre Grimaldo, que visam ou hostilizar a massa adepta contra ele, limpando a responsabilidade da direcção, ou que são de facto o que aconteceu.

Não culpo nem direcção, nem jogador. Os adeptos permitem que o clube seja desrespeitado. A sua única exigência é uma ou outra exibição bem conseguida. Boa parte dos jogadores não encara o Clube como algo mais que o escritório onde ganham o ordenado. Jogar no SLB é o prémio, não um degrau. E o Grimaldo há muito que vinha mostrando comportamentos de vedetismo, de enfado, tal como Rafa. Apaparicamos demasiado os jogadores que apenas vestem o Manto Sagrado. É essa cultura de exigência que temos de mudar. A apreciação da massa adepta tem de ser conquistada. Temos de analisar futuramente o paradigma do marketing do SLB. Qual é a mensagem aburguesada que está a passar. A nossa cor é o vermelho, não o cor-de-rosa embotado.

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